domingo, 22 de abril de 2012

Caro Prefeito de Cityland,

              O senhor constrói e mantêm escolas, e foi numa delas onde eu aprendi que na Roma Antiga a diversão do povão era assistir às lutas de gladiadores. Nessas lutas, pessoas de baixa ou nenhuma renda lutavam até a morte entre si para entreter outras pessoas que adoravam frequentar o Coliseu. Caso o senhor não se lembre, o Coliseu é formado basicamente de arquibancadas em formato circular, quase oval, feitas de pedra. Ele ainda está de pé, na Roma Atual. O povão que assistia à esses 'espetáculos' passava fome, frio, sede e não tinham casas decentes para morar. Mas esses problemas só apareciam quando eles estavam fora das aquibancadas. Lá no Coliseu, a euforia era tanta que tudo era esquecido. Lá, também era distribuído pão para os espectadores. Todo esse entretenimento era financiado pelo Imperador romano vigente. Mas o senhor deve estar se perguntando: 'Se esse povo passava necessidades, por que o Imperador gastava o dinheiro dos impostos com lutas?' A resposta é simples. Na República Romana, a política que mais funcionava era a panis et circencis. Se o povo tiver pão e risos, eles vão esquecer do resto e não vão cobrar por melhoras na qualidade de vida da população. E o mais engraçado de todo esse circo, é que o povo caiu nessa conversa mole por sete séculos. Não é possível. Será que toda a população caiu nessa por tanto tempo? E as pessoas que não gostavam desse jogo, elas se sentiam seguras por simplesmente não gostar? Ou elas se sentiam obrigadas a pelo menos fingir que gostam? Como será que os espectadores saíam de dentro do Coliseu, depois de assistir à competições acirradas de jogadores e torcidas? Pacíficos, eu tenho certeza que não. Mas por que o Imperador não acabou com essa palhaçada que matava pessoas de graça e deixava os espectadores mais violentos?, o senhor deve estar se perguntando. Eu mesma posso responder: por que é muito mais fácil ignorar os problemas do que resolvê-los.
Nós, cidadãos de Cityland, não cairemos mais nessa conversa. Não queremos entretenimento ao invés de recursos básicos para a sobrevivência. Nós não queremos carnaval e futebol, queremos casas para todos e comida na mesa, saneamento básico, ruas asfaltadas, áreas verdes para respirar, transportes coletivos de qualidade e professores bem pagos. Infelizmente, ainda temos alguns cidadãos remanescentes que não cairam na realidade, ainda estão mais interessados no panis et circencis que o senhor promove.
Depois de uma semana comprida de trabalho e estudos, nós queremos passear numa tarde de domingo por Cityland, sem ter medo dos torcedores que saem do Coliseu, digo, estádio. Não queremos ter medo de que algumas pessoas resolvam utilizar transportes coletivos como meio de vandalismo e agressão aos outros cidadãos.
Viver aqui está cada vez mais difícil, sr. Prefeito. Nós não queremos só ter casa. Queremos uma boa vizinhança, queremos cidade.


Ass.: Cidadãos que votam na sua re-eleição (ou não).

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O senhor e a sonhadora

É engraçado como as vezes a vida nos coloca no caminho de pessoas que fazem você ter certeza das suas próprias opiniões. Afinal, de que adianta ter um ponto de vista se você não o compartilha com ninguém? Quando necessário, eu falo. Não gosto muito de ficar discorrendo sobre o que eu penso sem ser requisitada, ninguém me ouviria com atenção.

Mas ontem eu fui à locadora pegar uns filmes. Lá encontrei um senhor que tinha um jeito de olhar para o mundo muito curioso, o que me fez falar sem ser requisitada, quebrando a regra que eu acabei de dizer que seguia. Enquanto eu estava meio que escondida no fundo da locadora, local onde ficam as prateleiras de filmes brasileiros, ouvia o senhor perguntar para a atendente quais filmes ela recomendava. Depois de lhe entregar uma pilha de dvds, ele os colocou em cima do balcão que ficava ao meu lado para analisá-los melhor, quando percebeu a minha presença. Então me perguntou que categoria de filmes tinha nessa prateleira e quando respondi, ele me deu de volta a seguinte onomatopeia desoladora: 'Argh'. Apesar de eu não ter requisitado, ele continuou a falar, deve ter sido pelo meu olhar de espanto: 'Se tem duas coisas que os Estados Unidos fazem de melhor no mundo é cinema e música'.


(um minuto de silêncio)




Como assim?



Eu queria mesmo que ele estivesse brincando. Ou que estivesse falando isso só para ouvir qual seria a minha resposta. Depois disso ele não me deu escolha, tive que responder e expor meu ponto de vista, quebrando aquela minha regra.

Infelizmente, o cinema até que dá para aceitar a afirmação desse senhor, porque eles tem uma indústria muito forte e tal. Mas o que realmente me irrita neles é que tudo para eles é lidado como indústria, até a arte. É tudo tão igual, tão previsível. É por isso que eu gosto mais daqui, os filmes são mais humanos, você enxerga uma pessoa de verdade lá na tela. As músicas têm uma essência que fábrica nenhuma produz igual.
Então o senhor olhou para mim com uma decepção que me deu vontade de ir embora, e perguntou por que eu acreditava tanto no Brasil. Essa vontade aumentou e se misturou com algum sentimento que eu ainda penso sobre ele para entender. Como despedida, eu disse: 'Já tem adultos discrentes demais e adolescentes preguiçosos de sobra no nosso país'. Como última tentativa de espalhar a discrença, o senhor disse: 'Só você não vai conseguir mudar o mundo, criança'.

Talvez eu seja mesmo uma criança. Talvez eu seja sonhadora e utópica. Mas a utopia é o horizonte. Você sabe que nunca vai alcançar, mas se ele não estiver lá, você não caminha. (Eduardo Galeano)

Vamos caminhar comigo?

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Sonhos e palavras

Quanto mais me faltam palavras para explicar o que eu sinto no meu dia, mais vontade me dá de escrever. E é engraçado como tudo parece fazer mais sentido quando se pode ler ao invés de ouvir ou falar. Tudo bem, nem tudo. Seria muita ambição da minha parte dizer que tudo faz sentido pra mim quando olho para o teclado do meu computador.
Eu gosto de seguir o conselho do meu caro amigo Billy Joel, - slow down, you are so ambitious for a juvenile. Uma das minhas imagens do futuro é estar velhinha e feliz com alguns sonhos realizados, ao som dessa música, pensando em tudo o que aconteceu para eu chegar até onde vou ter chegado.
Sonhos eu tenho muitos, alguns já até viraram planos, e outros, passados. Quero sim que eles se realizem, - é para isso que sonhamos - mas também quero que nem todos se concretizem. Estranho? Qual seria a graça da vida se todos os nossos sonhos se realizassem? Onde estaria a força de vontade de lutar pelo que quer se tudo que a gente quisesse virasse verdade? E depois de tudo, só nos sobrariam lembranças da época que tínhamos algo para realizar. Por isso eu peço: sonhos, se realizem; mas não todos. Deixe um pouco de fantasia de reserva na minha imaginação. E para essa fantasia fazer sentido, eu só preciso olhar para o meu teclado do computador.
É, Billy. Vamos juntos?