quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O senhor e a sonhadora

É engraçado como as vezes a vida nos coloca no caminho de pessoas que fazem você ter certeza das suas próprias opiniões. Afinal, de que adianta ter um ponto de vista se você não o compartilha com ninguém? Quando necessário, eu falo. Não gosto muito de ficar discorrendo sobre o que eu penso sem ser requisitada, ninguém me ouviria com atenção.

Mas ontem eu fui à locadora pegar uns filmes. Lá encontrei um senhor que tinha um jeito de olhar para o mundo muito curioso, o que me fez falar sem ser requisitada, quebrando a regra que eu acabei de dizer que seguia. Enquanto eu estava meio que escondida no fundo da locadora, local onde ficam as prateleiras de filmes brasileiros, ouvia o senhor perguntar para a atendente quais filmes ela recomendava. Depois de lhe entregar uma pilha de dvds, ele os colocou em cima do balcão que ficava ao meu lado para analisá-los melhor, quando percebeu a minha presença. Então me perguntou que categoria de filmes tinha nessa prateleira e quando respondi, ele me deu de volta a seguinte onomatopeia desoladora: 'Argh'. Apesar de eu não ter requisitado, ele continuou a falar, deve ter sido pelo meu olhar de espanto: 'Se tem duas coisas que os Estados Unidos fazem de melhor no mundo é cinema e música'.


(um minuto de silêncio)




Como assim?



Eu queria mesmo que ele estivesse brincando. Ou que estivesse falando isso só para ouvir qual seria a minha resposta. Depois disso ele não me deu escolha, tive que responder e expor meu ponto de vista, quebrando aquela minha regra.

Infelizmente, o cinema até que dá para aceitar a afirmação desse senhor, porque eles tem uma indústria muito forte e tal. Mas o que realmente me irrita neles é que tudo para eles é lidado como indústria, até a arte. É tudo tão igual, tão previsível. É por isso que eu gosto mais daqui, os filmes são mais humanos, você enxerga uma pessoa de verdade lá na tela. As músicas têm uma essência que fábrica nenhuma produz igual.
Então o senhor olhou para mim com uma decepção que me deu vontade de ir embora, e perguntou por que eu acreditava tanto no Brasil. Essa vontade aumentou e se misturou com algum sentimento que eu ainda penso sobre ele para entender. Como despedida, eu disse: 'Já tem adultos discrentes demais e adolescentes preguiçosos de sobra no nosso país'. Como última tentativa de espalhar a discrença, o senhor disse: 'Só você não vai conseguir mudar o mundo, criança'.

Talvez eu seja mesmo uma criança. Talvez eu seja sonhadora e utópica. Mas a utopia é o horizonte. Você sabe que nunca vai alcançar, mas se ele não estiver lá, você não caminha. (Eduardo Galeano)

Vamos caminhar comigo?

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Sonhos e palavras

Quanto mais me faltam palavras para explicar o que eu sinto no meu dia, mais vontade me dá de escrever. E é engraçado como tudo parece fazer mais sentido quando se pode ler ao invés de ouvir ou falar. Tudo bem, nem tudo. Seria muita ambição da minha parte dizer que tudo faz sentido pra mim quando olho para o teclado do meu computador.
Eu gosto de seguir o conselho do meu caro amigo Billy Joel, - slow down, you are so ambitious for a juvenile. Uma das minhas imagens do futuro é estar velhinha e feliz com alguns sonhos realizados, ao som dessa música, pensando em tudo o que aconteceu para eu chegar até onde vou ter chegado.
Sonhos eu tenho muitos, alguns já até viraram planos, e outros, passados. Quero sim que eles se realizem, - é para isso que sonhamos - mas também quero que nem todos se concretizem. Estranho? Qual seria a graça da vida se todos os nossos sonhos se realizassem? Onde estaria a força de vontade de lutar pelo que quer se tudo que a gente quisesse virasse verdade? E depois de tudo, só nos sobrariam lembranças da época que tínhamos algo para realizar. Por isso eu peço: sonhos, se realizem; mas não todos. Deixe um pouco de fantasia de reserva na minha imaginação. E para essa fantasia fazer sentido, eu só preciso olhar para o meu teclado do computador.
É, Billy. Vamos juntos?